
O fato é que depois de experimentar conversas, palmadas e castigos, o filho de mocinha insistia em "engolir" seus calçados sempre que os tiravam dos pés. Na hora de sair, era sempre aquela ladainha. Ao ouvir o pedido da mãe para se calçar, a criança fazia de conta que não era com ela, e quando mocinha mandava o pequeno procurar pelos calçados, este olhava para o teto fingindo que estava procurando, sempre ao fundo de uma melodia chorosa e irritante. No fim era sempre a mãe quem tinha que ativar a bola de cristal para descobrir onde estava o pisante.
__ Cansei! Disse a mãe chateada por ver todas as suas estratégias frustradas.
__ Como você não encontra seu calçado hoje você vai para a aula descalço!
A criança pôs-se a chorar. A mãe discretamente continuou a incansável busca por um par de calçados. Naquele momento não importava se encontraria o tênis habitual de ir para a escola ou o de passeio. Poderia até mesmo ser uma sandália, mas que fosse rápido, porque já havia excedido o horário de entrada do colégio. Avistando um velho par de tênis, mocinha embalou-o cuidadosamente escondendo em sua mão.
__ Vamos! A criança chorava por não querer ir à aula descalça. Seus coleguinhas ririam dele, tadinho.
Mocinha foi irredutível. Claro, o coração cortou ao ver seu filho, criado com tanto carinho, por quem tanto se dedicava para ver bem alimentado e vestido descer as escadas do prédio cheiroso, de cabelinho penteado, uniforme impecável, mochilinha na mão e pezinhos no chão. O pequeno chorava, assim como as lágrimas escorriam pelo coração da mãe.
Ao chegar no portão que dava para a rua, a criança começava a avistar de longe coleguinhas que também iam para a escola. Hesitou em cruzar o portão.
A mãe chamando-o, agachou-se à altura da criança e lhe disse:
__ Seu calçado está aqui. Você nunca mais vai escondê-lo, ou da próxima vez você vai descalço até à escola.
Assim sendo, a criança respirava alividada enquanto a mãe lhe calçava os pés.
Moral da história? O pequeno... pequeno Pedro, até os dias de hoje nunca mais deixou um chinelinho sequer espalhado pela casa. Um primor de menino, caprichoso até a alma.
Agora me diga, você acha que mocinha é louca??? É nada... louco é quem concorda com essa menina moça!